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A volta ao mundo em 80 vinhos - Israel

A declaração da independência do Estado de Israel foi assinada em 1948. Até essa altura e desde 1920, o território esteve sob administração do Mandato Britânico da Palestina, uma entidade geopolítica sob administração britânica, que foi criada com a Partilha do Império Otomano após o final da Primeira Guerra Mundial.


Onde é que fica Israel?

Israel é um país do Médio Oriente que faz fronteira:

- a norte com o Líbano

- a nordeste com a Síria

- a leste com a Jordânia e a Cisjordânia

- a oeste o Mar Mediterrâneo

- a sudoeste com o Egipto e a Faixa de Gaza

- a sul com o Golfo de Aqaba, no Mar Vermelho

Não é um país muito grande: a viagem de oeste a este, do Mar Mediterrâneo ao Mar Morto pode ser feita em 90 minutos de carro, e a viagem de Norte a Sul, de Metulla bem a Norte a Eilat bem a Sul, são cerca de 9 horas.

Que tipos de climas e solos podemos encontrar em Israel?

O país pode ser dividido em quatro áreas fisiográficas, com micro-climas e solos tão distintos:

1/ A planície costeira do Mediterrâneo, fértil e húmida, e maioritariamente arenosa, é atravessada por vários rios, onde predominam as culturas da vinha e de citrinos. É onde está mais de metade da população e as grandes cidades de Tel Aviv e Haifa.

2/ As cadeias montanhosas que vão dos Montes Golã, com solo basáltico, a norte, às colinas da Judeia e da Samaria na Cisjordânia, a este. O ponto mais alto, o Monte Hérmon, a 2814m de altitude, está muitas vezes coberto de neve, ao mesmo tempo que à sua volta, o sol queima o mosaico de colinas e vales onde resistem oliveiras seculares.

3/ O Grande Vale do Rift, uma longa brecha na crosta terrestre, que começa muito antes da fronteira norte de Israel, e forma uma série de vales até ao golfo de Aqaba bem a sul, na ponta norte do Mar Vermelho.

3/ Uma zona semi-árida, quase desabitada, o Deserto de Negev, que cobre mais de metade da área do país e onde a precipitação é de 32mm por ano (para facilitar a comparação: em 2019, a estação meteorológica de Beja registou 359,2mm e a de Viana de Castelo registou 1276,3mm). Para compensar esta falta de água, gigantes tubos, aquedutos, canais, túneis e diques trazem água do Mar da Galileia, desde a fronteira de Israel com a Jordânia, até ao Mar Morto, o ponto mais baixo da Terra (que está a 400m abaixo do nível do mar).

Nana Estate Vineyard, na região de Negev

https://nanawine.com

Quais são as regiões vitivinícolas de Israel?

Esta divisão fisiográfica está certamente relacionada com a actual divisão do país em (5) denominações de origem: Galileia, Samaria, Sansão, Negev e Colinas da Judeia. É uma divisão que remonta aos anos 1960, muito antes de a indústria vitícola ser o que é actualmente. Fala-se em actualizar esta divisão e adaptá-la à realidade de hoje, mas até decisão em contrário, é esta a divisão que vigora. Apesar de tudo, a origem do vinho raramente se indica no rótulo, já que é muitas vezes, uma mistura de uvas das diferentes regiões.

Galileia – É considerada a denominação de maior renome, situada no norte de Israel. Inclui duas das regiões vitícolas de maior qualidade: Alta Galileia e os Montes Golã. Estas são regiões de altitude, e por isso de clima mais fresco. A Alta Galileia é uma área montanhosa de florestas, com solos pesados (vulcânico, gravilha e terra rossa) mas com boa drenagem. Está perto da fronteira a norte com o Líbano, não muito longe do Vale do Beca, o coração da indústria vitícola do Líbano. Os Montes Golã são um planalto vulcânico que chega aos 1200m acima do nível do mar. A área beneficia de brisas frescas da neve que cobre o Monte Hérmon.

O principal produtor nos Montes Golã é a Golan Heights Winery, situada em Katzrin.

Golan Heights Winery

https://www.golanwines.co.il/en/

Samaria – É a região produtora de vinho mais tradicional, plantada inicialmente pelo Barão Edmond de Rothschild nos anos 1880. A maior concentração das vinhas é nas zonas que rodeiam as cidades vitícolas de Zichron Ya’acov e Binyamina, beneficiando da cadeia montanhosa de Carmelo a sul e das brisas frescas do Mar Mediterrâneo.

Sansão – A região vitícola foi nomeada de acordo com a figura bíblica que frequentaria a área. Uma parte da região é a zona central e costeira do Planalto da Judeia e outra é as Terras Baixas da Judeia, a sudeste de Tel Aviv.

Judeia – As Colinas da Judeia são a região com maior crescimento no que a novas vinhas e novas adegas diz respeito.

Negev – É uma região desértica que ocupa metade do país. As vinhas foram plantadas nas zonas mais altas, a noroeste, em Ramat Arad, uma área semi-árida a 500m acima do nível do mar, onde praticamente não chove.


A história do vinho em Israel

Israel terá das vinhas mais antigas e das vinhas mais jovens do mundo. A vertente comercial associada à viticultura surgiu apenas entre 1881 e 1903, na altura da primeira aliyah (termo que designa a imigração judaica para a Terra de Israel). Até lá, as comunidades judias estavam centradas em Jerusalém, Hebron, Tiberíade e Safed, e o vinho fazia-se em casa para fornecer o Kiddush (bênção recitada sobre vinho ou sumo de uva para santificar o Shabat). Por essa altura, as novas comunidades começam a receber donativos do Barão Edmond de Rothschild, banqueiro parisiense, judeu, dono do Chateâu Lafite, e usavam varas francesas com instruções dos agrónomos franceses de Rothschild: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot das vinhas de Lafite. Quando o flagelo da filoxera (um afídeo que ataca principalmente as raízes das videiras, e que destruiu uma grande parte das vinhas por todo o mundo) atingiu os vinhedos na década de 1890, plantaram Carignan, Alicante, Clairette & Ugni Blanc.


Entretanto, o Barão construiu a primeira adega comercial em Zichron Ya'acov, em 1892, e outras se seguiram, com o negócio do vinho e as vendas a cresceram particularmente durante a Primeira Guerra Mundial, quando alemães, britânicos e australianos passaram pelo país. Quando a guerra terminou, os israelitas perderam os principais mercados: a Rússia por causa da revolução, os E.U.A. por causa da proibição, e o Médio Oriente por causa do nacionalismo árabe. Muitas videiras foram substituídas por pomares de citrinos, amendoeiras e oliveiras.

Foi apenas nos anos 1980 que começou a acontecer uma verdadeira revolução, com novos produtores a plantarem vinhas pelo país, particularmente em altitude, e em climas mais frescos, com técnicas enológicas de Novo Mundo. Os anos 1990 viram uma explosão de pequenas adegas fundadas por visionários, alguns autodidactas e educados no estrangeiro, principalmente na Califórnia.

Que castas estão plantadas em Israel?

O primeiro Merlot foi plantado nos Montes Golã nos anos 1880. O Chardonnay apareceu no final dos anos 1980. Apesar de a Colombard ainda dominar nos brancos, é apenas 7% da totalidade dos vinhos. A Syrah também apareceu em meados dos anos 1990, e é hoje considerada a casta mais adaptada ao clima israelita. O início do séc. XXI trouxe muitas novas castas, todas importadas: Pinot Noir, Nebbiolo, Malbec, Sangiovese, Petit Verdot, Mourvèdre, Tempranillo, Pinotage, Cabernet Franc, entre outras.


Os Otomanos, quando controlavam a Palestina, permitiram apenas uvas de mesa, condenando a enologia a um atraso de centenas de anos e contribuindo provavelmente, para o desaparecimento de muitas castas indígenas. A única variedade considerada indígena é a Argaman, um cruzamento entre Mazuelo (Carignan) e Sousão (uma casta tintureira portuguesa), obtido em 1972 por Pinchas Spiegel-Roy, para criar uma casta com muita cor e altamente produtiva. Foi plantada pela primeira vez em 1984 e patenteada em 1992. Infelizmente, além da cor impressionante, não passou como variedade de qualidade.


Assim sendo, continua a haver uma procura incessante por uma casta-bandeira (como a Malbec na Argentina ou a Carménère no Chile) e as hipóteses parecem ser:

1/ O renascimento da Carignan, principalmente das vinhas velhas com baixo rendimento;

2/ A Petite Syrah, que aprecia o clima mediterrânico;

3/ A Moscatel de Alexandria, plantada desde o tempo do Barão de Rothschild, mas que ainda só é utilizada para vinhos doces, aromáticos e para sumo de uva;

4/ A Emerald Riesling, um cruzamento californiano que não é Riesling, e que nunca teve sucesso a não ser em Israel.

Que vinho provámos?

O Gamla Viognier-Chardonnay 2016 é um lote de uvas brancas (80% Viogner e 20% Chardonnay) plantadas nos Montes Golã, em solo vulcânico – o basalto preto está por todo o lado. Apesar de considerada uma região fresca (pelas vinhas plantadas em altitude, entre os 400 e os 1200m em relação ao nível do mar), o vinho tem um perfil de alperce seco, frutos secos e mel, que confere uma sensação de doçura, tanto no aroma como na prova em boca, o que pode também ser resultado de alguma evolução em garrafa.




Fontes

ROBINSON, Jancis, VOUILLAMOZ José, HARDING, Julia - Wine Grapes: A Complete Guide To 1,368 Vine Varieties, Including Their Origins And Flavours. Penguin Books, 2013

https://www.golanwines.co.il/en/

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